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Sporting: El Killer português

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: El Killer português
Sporting

O estranho caso de Paulinho ou, por outras palavras, o notável dossiê do menos suplente de todos os suplentes do futebol português. Contratado por exigência firme de Rúben Amorim, o avançado sempre confirmou os seus predicados e coroou esta época, mesmo jogando de forma mais intermitente, com um pecúlio de 21 golos e 6 assistências. Mas Paulinho vale muito mais do que isso. Voa muito alto e às vezes sem se ver.

Ou melhor, trata-se também de um extraordinário e verosímil caso em que os números enganam. Se Paulinho não é propriamente um matador por excelência, a sua influência tática torna o Sporting melhor, assente num ramalhete de soluções difíceis de compaginar num só jogador: a desmarcação precisa; o recuo estratégico para alimentar o jogo a partir do miolo; a perceção minuciosa de todos os momentos; e, acima de tudo, aquele “pára-arranca” no momento exato, capaz de gerar a indecisão invisível nos seus opositores.

Se o Sporting, na temporada passada, adquiriu Gyokeres no sentido de se reforçar com um produto diferenciado, o rendimento hiperbólico do sueco também se justifica com a necessária blindagem proporcionada pelo agora “El Killer Portugués”. E num cenário nunca concorrencial. Se o rendimento de Paulinho, outrora, foi muito massacrado e condicionado pelo facto de não ser um homem-golo, a entrada de Gyokeres assegurou também a blindagem no sentido contrário. No fundo, tratou-se de um casamento tático que acabou por não o ser.

E daí a principal das questões. A principal das dúvidas: se Gyokeres se mantiver de leão ao peito, onde é que o Sporting vai arranjar um avançado com tanta qualidade e que esteja disposto a ser suplente ou, de forma mais precisa, a usufruir do mesmo papel que Paulinho desempenhou nesta temporada?. Do outro lado do raciocínio, a natural compreensão em relação à envolvência de Paulinho: trata-se de um jogador de 31 anos e que, para além da possível situação económica mais vantajosa, vai receber as alvissaras do protagonismo que nunca teve e certamente merece: El Killer Portugués ainda não é dossiê fechado e pode até nem chegar a sê-lo. Mas a alcunha diz bem daquilo que poderá representar quer em termos individuais quer em termos de exponenciação do campeonato mexicano: afinal de contas, será o explorador português na terra dos sombreros. E um ponto essencial: quem primeiro chega, ou quem primeira chega com furor, tem o direito de receber os royalties da fama e de vestir a farda de Pedro Álvares Cabral. Afinal de contas, em primeiro lugar chegou Paulinho e só depois triunfaram todos os outros. Fica na História. Fica na História da gente.

Se Paulinho é sempre fogo tático que arde sem se ver, a sua eventual saída para o Toluca poderá representar um problema. Num cenário de maior exigência (participação na Liga dos Campeões), a rotatividade plena deveria ser sublinhada através de um jogador experiente e com profundo conhecimento do distinto desenho tático de Amorim. Sim, porque quem vier, mesmo que seja da formação, terá de atravessar um processo adaptativo que, não sendo penoso, incluirá obstáculos até se atingir a fase de maturação plena. De compaginação quer com a equipa quer com o tubarão Gyokeres.

E difícil de substituir até pela componente emocional em si. No caso de ter de ser realizada uma contratação, não é propriamente fácil convencer-se um jogador que tendencialmente terá de ser suplente e dotá-lo do necessário poder de encaixe para que tal situação seja sempre benéfica quer para o próprio quer para o clube. Com arrasto para os demais sectores do terreno. No fundo, um pequeno microproblema que se poderá agigantar caso a situação não seja resolvida de imediato.

É esse um dos problemas da chamada “silly season”. Das novas temporadas e das transposições de uma para a outra. Se a especulação impera e a mesma também faz parte do póquer do jogo, importa ser ladino e resolver de forma pronta e imediata. Porque o Sporting, melhor do que ninguém, sabe que as ligas se vencem no seu início, quando se preparam e afinam produtos diferenciados que, no final das maratonas, valem aqueles pacotes de pontos extra que são absolutamente determinantes.

É certo que haverá sempre Sporting depois de Paulinho e, nos bastidores, tudo está preparado para se perder x e ser necessário substituir por y. Faz parte do quotidiano das equipas. Das suas rotinas. A criação das sombras. Seja como for, é sempre mais complicado substituir-se o diferenciado. Seja no efeito Gypkeres seja num efeito Paulinho, por todos os tentáculos de jogo que representa. Sempre tarefa para líderes atentos.

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