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Portugal: Por exclusão de partes

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Portugal: Por exclusão de partes
Federação Portuguesa de Futebol

Soaram as sirenes após o jogo frente à Croácia e veio a bonança mal terminou o jogo diante da Irlanda. Ou nem uma coisa nem outra. Emocionalmente falando, a preparação da seleção nacional foi apenas um conjunto de testes necessários a aquilatar pontos fracos e fortes dentro da premissa que realmente importa: nenhuma equipa se faz num mês. Uma seleção muito menos.

Por isso, das duas uma: ou Roberto Martinez plasma na seleção um conjunto de dinâmicas provenientes dos clubes – assim aconteceu no euro 2004 com Costinha, Maniche e Deco (FC Porto) ou no euro 2016 com William Carvalho, Adrien Silva e João Mário (Sporting) – ou então opta pelo trilho do selecionador experiente: vamos por exclusão de partes. Sempre em contexto de laboratório, para colocar a equipa em teste dentro de um quadro de possíveis ameaças e eliminando um conjunto de imponderáveis que, no fundo, são determinantes num quadro competitivo de um mês em que há que decidir rápido e firme: pegar no que se tem mais à mão e utilizar sem hesitações, porque a experiência já foi realizada em laboratório.

No entanto, o embate diante da Irlanda trazia uma importante verruga emocional que tinha de ser eliminada: a seleção não podia continuar a sofrer dois golos por jogo, sob pena de se gerar uma avalanche errática, naquela onda de que tudo tem de correr mal quando corre mal. Analisando friamente, é claro que as coisas não são bem assim e o cenário tende a acalmar-se. Mas, mais uma vez, era necessário agir pronto e rápido. A opção por um sistema de três centrais com laterais expostos e um meio-campo propenso à reação rápida trazia o contexto necessário para que tudo se interligasse, e as estrelas conseguissem brilhar mais alto. Mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Cristiano top mas dentro de uma cápsula de segurança.

"A opção por um sistema de três centrais com laterais expostos e um meio-campo propenso à reação rápida trazia o contexto necessário para que tudo se interligasse"

São 39 anos, mais virão, mas há uma verdade que será sempre imutável: Cristiano Ronaldo continuará a ser letal em termos de exploração de zonas de finalização. Colossal. Como nenhum outro. Sim, toda a estratégia tem de ser preparada em termos de proteção física de um jogador único e com capacidade para permanentemente desequilibrar caso o contexto coletivo o coloque na mesma zona x. Mesmo a partir da meia-direita, como aconteceu frente à Irlanda. Se a presença de Jota – mais móvel e propenso a diagonais – representa a melhor notícia do mundo para CR7, convém sobretudo realçar que o desempenho frente à Irlanda foi o mais sólido da era “Martinez”, com o sublinhado da boa notícia a residir no facto de tal desempenho ter sido obtido num esquema de três centrais que parece ser o predileto do selecionador.

Ronaldo será sempre o jogador mais mediático da seleção portuguesa

Entra em cena o campo das probabilidades, e a tendência para a estreia diante da Chéquia ser definida com os tais três centrais que tão bem deram conta do recado, sendo que naturalmente Irlanda e Chéquia são seleções diferentes. Também se alimentam as quentes expectativas em torno de Cristiano Ronaldo, com a frieza a ser boa conselheira: não vai ser sempre assim mas pode ser muitas vezes assim caso o astro português entenda que muito dificilmente poderá jogar todos os minutos da competição. Porque uma coisa é certa: bem ou mal, Cristiano Ronaldo será sempre o jogador mais mediático da seleção portuguesa. E, se conseguir transformar os holofotes em carapaça protetora da seleção, tal significará tranquilidade, concentração e alívio em torno de um coletivo que tem condições para sonhar alto.

Mais do que as conclusões que advieram dos três jogos de preparação, há uma realidade estratégica que se distingue das demais: no fundo, ninguém sabe de que forma é que Portugal vai entrar diante da Chéquia. O que é ótimo, sobretudo porque deste lado somos portugueses e do outro estão os confusos checos. Ou seja, a inexistência de um onze padrão mais ou menos definido pode, por um lado, representar uma falta de identidade que é essencial nesta altura do campeonato. Mas, por outro, é sempre mais fácil de enfrentar aquilo que não tomamos por adquirido. Complicado para os adversários, principalmente quando a seleção portuguesa tem um quadro de ativos bastante rico, capaz de se desdobrar em duas ou três equipas altamente competitivas e sem aparentes segundas linhas.

Rúben Neves foi um dos pontos altos do ensaio

Por exemplo, a performance de Rúben Neves foi um dos pontos altos do ensaio irlandês. Eficaz em termos de recuperação rápida em zona alta e definição precisa, conquistou pontos determinantes para a sua inclusão no onze, sobretudo se houver a tal opção pelos três centrais de início. Seja como for, a melhor conclusão foi mesmo defensiva: com uma intensidade muito interessante, o último reduto conseguiu estabilizar-se quer em termos de ocupação de espaços quer sobretudo em termos de aniquilação da profundidade (decisiva ação de Danilo Pereira e Diogo Costa).

Se uma boa prestação no jogo inaugural representará, acima de tudo, uma plataforma de segurança para os próximos embates não sejam um confronto “mata-mata”, as boas perspetivas continuam intactas. Sim, o que se passou diante da Croácia não pode ser eliminado com borracha: há ainda trabalho a fazer, principalmente no que toca à dúvida quando os adversários se tornam mais exigentes. Mas vamos lá: passo a passo que a caminhada ainda só agora começou.

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