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FC Porto: Quem nunca foi Vítor Bruno que atire a primeira pedra

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Quem nunca foi Vítor Bruno que atire a primeira pedra
X Vitor Bruno

É certo que a turbulência era desnecessária, sobretudo num período pós-eleitoral onde a poeira começava a assentar e o desígnio de "Somos só um Porto" já se entranhava e estabilizava de forma efetiva. E, para os lados do Dragão, há a plena noção de que, e ainda bem, entrou em cena o André Villas-Boas treinador: a aposta em Vítor Bruno representa um sinal de continuidade de um projeto jovem, com pernas para andar, e que necessita de afinações (zona central da defesa como eixo prioritário) e nunca de revoluções provindas de um hipotético novo rosto de comando.

Ora, o que se depreende disto tudo é que Villas-Boas (agora o Presidente) considera que a equipa está bem montada, mas o rosto principal (Sérgio Conceição) tem de mudar. Por aí também já se percebeu: ou André Villas-Boas, e de forma legítima, não aprecia o estilo ou o comportamento de Sérgio Conceição, ou então está de pé-atrás após a renovação firmada dias antes do ato eleitoral. Também pode ser por aí. Mas com uma ressalva: que o discurso de André Villas-Boas, no rescaldo, seja sereno e recheado de respostas claras. Boa comunicação precisa-se, para que se evite a nuvem negra que paira a montante: chamada atitude revanchista. No fundo, apenas um ajuste de contas pelo facto do treinador ter renovado o contrato o que, com mais ou menos razão, retirará a aura protetora a André Villas-Boas. Largos dias têm cem anos mas as primeiras atitudes ficam sempre. Para sempre.

Nesta peça, entra agora em cena Vítor Bruno. Em sua defesa e, valha a verdade aquela posição que nesta altura só interessa ao FC Porto, é que a equipa fica dotada de um técnico capaz, identificado com o projeto, e que assegura o tal elo de continuidade que era (e continua a ser) a mãe de todas as prioridades. Do outro lado, a relação com Sérgio Conceição e a hipotética facada nas costas ao líder do grupo. Se, por um lado, é louvável e bonita a relação de lealdade entre todos os adjuntos que não Vítor Bruno a Sérgio Conceição, por outro lado também não se sabe exatamente qual a forma com que Vítor Bruno comunicou a Sérgio Conceição a forma como se pretendia "emancipar". Ficará sempre entre eles. Ai as salas falassem.

Mas a questão, aqui, parece ser outra: todos falam, todos argumentam. E até todos falam genuinamente e de coração. Agora, parece difícil de acreditar que alguém, no seu perfeito juízo, rejeitasse uma proposta do género. Uma vez na vida. A oportunidade de ser técnico principal do FC Porto, ainda por cima dentro de uma luva de nova direção que promete mais e melhor investimento dentro do tal projeto consolidado e que apenas necessita de retoques. Por aí é que é. É que, no fundo e a confirmar-se, toda a gente tem argumentos para atacar Vítor Bruno, mas a prática, ou a hipotética prática, far-se-ia de maneira diferente. Quem nunca foi Vítor Bruno que atire a primeira pedra.

Se, no início de junho, a ratificação do novo treinador tem mesmo de ser uma realidade sob pena da planificação para a próxima temporada ficar comprometida (se é que já não está atrasada), há que ir por passos: o número um: se Vítor Bruno não fosse a escolha para treinador, Villas-Boas já teria desmentido publicamente; o número dois: a notícia disseminada a rodos na comunicação social tem um efeito indireto: colocou a batata nas mãos de Sérgio Conceição, para que este seja o primeiro a querer resolver a situação como aconteceu; e número três – a necessidade de Vítor Bruno compor uma nova equipa técnica, sendo que por aqui não lhe faltarão pretendentes. Mas tem de fazê-lo já.

Aliás, e apesar da decisão pecar por tardia, não foi por acaso que a segunda-feira trouxe a notícia do desenlace contratual entre Sérgio Conceição e o FC Porto. Porque a incerteza, no caso, é inimiga da planificação e as revelações dos últimos dias trouxeram, pelo menos, a garrafa de volta à terra depois da agitação marítima: nem Sérgio Conceição, nem FC Porto, nem Vítor Bruno teriam quaisquer benefícios em continuar com o imbróglio. Ponto assente.

É certo que um dos principais jogadores da equipa – Francisco Conceição – é filho do "lesado" Sérgio Conceição, o que não deixa de acarretar uma situação incómoda. Sim, até fica bem a Francisco defender o pai (outra coisa seria isso sim censurável) mas deve perceber que o assunto, diretamente, não lhe diz respeito. Seja como for, não há sorrisos meios-amarelos. O desenvolvimento de Francisco Conceição desagua hoje num dos principais pilares da equipa, e a sua eventual saída traria um rude golpe num conjunto de dinâmicas ofensivas que são absolutamente de referência caso sejam aprimoradas/apetrechadas com os jogadores certos.

No fundo, deixar o tempo fluir. Se o recente traz alvoroço, o longínquo não apaga, mas, pelo menos, atenua. E os futuros tempos terão a oportunidade de edificar, também pelo menos, uma possível plataforma de convergência entre Francisco e o novo técnico. Até porque o assunto, mais uma vez, fala-lhe ao coração mas dilui-se na razão e transforma-se em ada. A não ser que o mundo de Francisco se vire de pernas para o ar e, por aí, decida sair. Tem o europeu como montra e o passado recente como o melhor dos portefólios. Mas será o mais improvável. Para já, no agir rápido é que está o ganho.

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